“Creio em Deus Pai todo-poderoso”


Nós católicos, pelo menos todos os domingos rezamos “Creio em Deus Pai todo-poderoso”. Entretanto, em algumas situações da vida, alguns parecem não entender o real significado de “todo-poderoso”. Vejamos um exemplo disso.


 


Aventureiros do mar invadindo o Brasil


Nos tempos em que o Brasil ainda era colônia, muitos eram os aventureiros que cobiçavam nossa Terra de Santa Cruz. Por isso, alguns aldeães, de várias partes da Europa, seguiam um velho capitão sedento de conquistas. Todavia, um dos mais atentos e aguerridos era Franz, jovem de origem alemã que vivera sem rumo até se unir à expedição. Seu grande desejo era ser o melhor combatente daquele exército clandestino, ficar rico e assim poder formar o seu próprio bando. Por isso, ouvia com muita atenção as explicações do capitão e esforçava-se por superar todos nos exercícios de guerra.


Passados alguns meses em alto-mar, os aventureiros avistaram terra. Todavia, as coisas não se desenrolaram como eles esperavam… Assim que desembarcam em nossas belas praias, seu ímpeto de domínio encontrou forte resistência entre os habitantes, muitos dos quais indígenas já batizados, fruto de um dedicado trabalho de evangelização.


 


Preso numa cela de pau a pique


No decorrer de um enfrentamento, Franz não percebeu que havia uma armadilha entre duas palmeiras e caiu dentro de um buraco, sendo capturado e levado para uma cela de pau a pique.


— Por que eu? – queixava-se ele – Se sou o melhor combatente de nossa quadrilha!


De repente, enquanto murmurava, sentiu-se olhado por alguém. Era uma indiazinha trazendo-lhe algo para comer. Em sua arrogância, Franz desviou o olhar, como se não estivesse faminto… Entretanto, ela deixou-lhe a comida e se afastou. Logo depois, vendo-a distanciar-se, observou que caminhava em direção a uma capelinha e lá a esperava um sacerdote.


 


“Você crê mesmo que Jesus está na Hóstia?”


Por vários dias, a cena da indiazinha deixando a comida se repetiu. Certa vez, decidiu perguntar à pequena, quando veio, deixar-lhe a comida:


— Ei! Menina! O que vocês fazem lá dentro?


— Dentro de onde? Da capela?


— É…


— Muitas coisas: de manhã temos Missa, porque bem cedo os homens partem para a guerra; à tarde, o padre chama as crianças, para rezarmos diante de Jesus, na Eucaristia, e pedirmos que Ele nos proteja e nos defenda.


Franz sentiu um arrepio, pois recordou-se de sua infância, quando também ia rezar na igreja de sua aldeia… Não obstante, querendo afastar a lembrança, perguntou com desprezo:


— E você crê, mesmo, que na Hóstia está Jesus?


— Claro!


— Vamos ver… Você sabe o Pai-Nosso? – inquiriu desafiante.


— Sei sim – respondeu Potira Maria, a indiazinha – “Pai nosso, que estais no Céu”…


— Suficiente! Veja o que diz: esse Pai, que você pensa que é Deus, está no Céu! Logo, não pode estar na Hóstia.


 


Deus é todo-poderoso


A menina pensou um instante e retrucou:


— E o senhor, já ouviu alguma vez o Credo?


Enquanto o prisioneiro murmurava por causa da sua sorte, dois olhinhos negros e brilhantes o fixavam. Por certo, o presunçoso prisioneiro assustado com a ousadia da menina, balbuciou:


— É… Já ouvi, sim…


— E seria capaz de repeti-lo?


Ele enrubesceu, mas se arriscou a pronunciar as palavras que há anos queria ter-se esquecido:


— “Creio em Deus Pai todo-poderoso”…


— Não precisa continuar… – atalhou a indiazinha – Se Deus é todo-poderoso, pode fazer o que quiser: estar no Céu e, ao mesmo tempo, na Hóstia consagrada!


Franz disse, meio sem jeito:


— Ora, não me amole! Só acredito no poder desse seu Pai se Ele me der um sinal…


Potira Maria dirigiu-se à capela, ajoelhou-se bem junto ao sacrário e fez uma humilde súplica:


— Meu Jesus, mostrai o vosso poder, mandando um sinal para aquele incrédulo prisioneiro e, pela vossa graça, ele poderá crer em Vós…


 


Deus manda um sinal


Passada uma semana, Franz foi surpreendido pela chegada de vários de seus amigos, agora cativos como ele.


— Que aconteceu? Por que vieram parar aqui? – perguntou ao que foi posto em sua cela.


— Fomos obrigados a recuar até o mar – disse ele – Não tínhamos mais saída! De fato, começamos a intensificar nossos ataques e, de repente, vimos aparecer no Céu uma Mulher com um Menino reluzente nos braços, tendo a seu lado um varão que nos apontava seu cajado com severidade e nos mandava sair destas terras. Decerto, foi um verdadeiro milagre! Ademais, os únicos que ficaram com vida fomos nós… e aqui estamos!!!


Franz começou a chorar e se pôs de joelhos, pois reconhecia naquele prodígio o sinal que pedira! Pois, um pesado remorso foi entrando em seu coração e ele se lembrou de todos os desvarios de sua vida… Então chamou o padre para fazer uma boa Confissão. Há quantos anos não o fazia!…


Sentindo-se leve e transformado, Franz usou de sua liderança para levar todos os seus companheiros a abandonarem a vida criminosa a que se tinham entregado. Convertidos todos, passaram eles a viver na Terra de Santa Cruz como uma piedosa milícia, a fim de defender o território dos invasores que nela quisessem se esgueirar.”